É muito comum ver casos de síndrome de burnout em bancários.
Isso acontece pois, dentre outros fatores, os funcionários de bancos trabalham com atendimento ao público, e se tem uma coisa difícil é isso.
Não satisfeitos com a dificuldade inerente ao trabalho, os bancos são conhecidos pelo excesso de trabalho e pressão por resultados.
Isso tudo faz com que os Bancos sejam terrenos férteis para a síndrome de burnout.
No post de hoje vou te mostrar o que é a síndrome de burnout, as principais causas em bancários, seus direitos e o que fazer, caso seja diagnosticado com a doença.
1- O que é a síndrome de burnout?
Se você está indo trabalhar e o pneu fura, aquilo te deixa chateado, gera estresse.
Você troca o pneu, avisa no banco que vai atrasar e pronto… resolvido o estresse, você se adaptou.
Não vivemos sem estresse, todo mundo “se estressa”, o estresse nos leva ao movimento, nos leva a tentar nos adaptar à determinada situação.
Quando você consegue se adaptar, consegue resolver e se sobrepor ao estresse, tá tudo beleza.
O problema aparece quando o negócio é tão pesado, que você não consegue “administrar” o nível de estresse.
Por exemplo, você está sofrendo assédio moral, fica tentando se “adaptar”, tenta resolver, mas não consegue…. até que tal hora o seu sistema entra em colapso.
A esse colapso, damos o nome bonito de síndrome de burnout.
E como eu posso definir isso, Allan?
Nesta “era” de internet e fake news, precisamos ter muito cuidado ao definir as coisas, principalmente pelas consequências de uma definição errada.
Por isso, vou te mostrar algumas definições que considero importantes…
A Organização Mundial de Saúde – OMS, define a síndrome de burnout como um:
Estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso
Já o Ministério da Saúde define como um:
Disturbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.
O Manual de Doenças Relacionadas ao Trabalho do Ministério da saúde descreve como um:
Tipo de resposta prolongada a estressores emocionais e interpessoais crônicos no trabalho.
Ainda de acordo com o Manual de Doenças:
O trabalhador com burnout, que antes era muito envolvido afetivamente com os seus clientes, com os seus pacientes ou com o trabalho em si, desgasta-se e, em um dado momento, desiste, perde a energia ou se “queima” completamente.
Segundo a Auditora Fiscal do Trabalho Luciana Baruki, em 2018:
Trata-se de um quadro no qual o indivíduo não consegue mais manter suas atividades habituais por total falta de energia.
Segundo Maslach & Jackson, em 1981 e em 1986, e Maslach, em 1993, a burnout é composta por 3 elementos essenciais:
- Exaustão emocional;
- Despersonalização;
- Diminuição do envolvimento pessoal no trabalho.
A esses 3 elementos também dão o nome de “dimensões” da burnout.
2- Quais as principais causas da síndrome de burnout em bancários?
Quando falamos em burnout, nunca existe uma só causa, um só fator que levou ao esgotamento, sempre são várias situações.
Estudando alguns processos de bancários que adquiram burnout e entraram na Justiça, identifiquei que as 7 principais causas são:
- Sobrecarga de trabalho;
- Acúmulo e desvio de função;
- Falta de reconhecimento e de perspectiva de crescimento;
- Medo constante de demissão;
- Abusos ao exigir metas;
- Metas impossíveis de serem alcançadas;
- Perseguição no trabalho.
Esses são só alguns exemplos, mas existem vários fatores que podem levar alguém à burnout.
Para a auditora fiscal do trabalho Luciana Baruki, em 2018, alguns riscos psicossociais que colocam o trabalhador na rota da burnout são:
- Demandas excessivas que ultrapassam a capacidade de realização;
- Baixo nível de autonomia e participação nas decisões;
- Falta de apoio das chefias;
- Sentimento de injustiça;
- Impossibilidade de promoção;
- Conflitos com colegas e isolamento.
Outro risco mencionado por ela é a sensação de que é preciso contrariar os próprios valores para se dar bem na carreira.
Afinal, quem nunca teve que fazer algo que não concordava, por medo de contrariar o chefe?
Uma coisa importante de se ter em mente é que nem todo mundo que passa por um nível alto de estresse terá síndrome de burnout.
Também existe uma questão de genética, já que lidamos de forma diferente com um mesmo estressor.
Para encontrar as causas que te levaram à burnout, o ideal é conversar com o seu psiquiatra e psicólogo, esses serão os sujeitos mais capacitados para definir isso.
Além disso, um relatório desses profissionais destacando as causas da sua burnout podem te ajudar muito na Justiça.
4- Quando a síndrome de burnout em bancários é considerada doença ocupacional?

Diferente do que muita gente acha, não basta ter a síndrome de burnout para ter direito a indenização, estabilidade e a emitir a CAT.
Para que a burnout seja reconhecida como uma doença ocupacional, ela precisa estar diretamente relacionada ao trabalho.
Você só terá todos os quando a burnout tiver sido causada ou agravada pelo trabalho.
Isso pode parecer algo muito simples e óbvio, mas não é.
Como a burnout é uma síndrome multifatorial, nunca haverá apenas uma causa, mas vários fatores que levaram ao adoecimento. A pergunta que deve ser feita é:
O principal fator está relacionado ao trabalho?
Veja dois exemplos:
Exemplo 1
Tiago trabalha como Gerente de PAA no Bradesco há 12 anos.
Nos últimos 6 meses, Tiago vem sofrendo bastante por causa da troca do Gerente da Agência.
O novo Gerente impõe metas elevadíssimas, que praticamente não podem ser alcançadas.
Além disso, o acompanhamento das metas pelo Gerente é diferente, ele quer que os funcionários reportem a cada 2 horas sobre a produtividade, além de todo dia pela manhã ter uma reunião de alinhamento.
Desde que o novo gerente assumiu, mais de 10 pessoas já foram demitidas e Tiago teme por seu emprego.
Por conta disso, Tiago vem fazendo cerca de 3 horas extras por dia, para conseguir bater suas metas.
Recentemente Tiago foi diagnosticado com um início de burnout.
Exemplo 2
Ricardo é gerente de PJ do Banco do Brasil, mas odeia a vida de bancário.
Apesar de ser formado em Administração e Contabilidade, Ricardo almeja uma carreira Jurídica. Resolveu cursar Direito.
Além de trabalhar, Ricardo está fazendo um estágio voluntário na área jurídica e faculdade na parte da noite.
Ricardo começou a ter várias crises de ansiedade no último semestre da faculdade, pela pressão em ter que fazer o TCC.
Além de toda a pressão na faculdade, Ricardo perdeu seu irmão, a quem era muito próximo, e isso o deixou devastado.
Depois de um tempo com as crises, foi diagnosticado com burnout.
No primeiro caso, é possível afirmar que a burnout está relacionado aos seguintes fatores do trabalho:
- Mudança organizacional (novo gerente);
- Sobrecarga de trabalho;
- Medo de demissão;
- Metas inalcançáveis e pressão pelo cumprimento.
Já no segundo caso, o que seria possível relacionar seria a frustração de Ricardo com o trabalho, concorda?
Isso é um fator, mas não é possível afirmar que esse foi o fator preponderante para a burnout ou mesmo que o Banco do Brasil teria culpa.
Acredito que aí o problema estaria mais relacionado com a sobrecarga de conciliar trabalho e faculdade e a perda do parente próximo.
Quer entender melhor quando a síndrome de burnout é considerada doença ocupacional? Basta conferir este post.
5- Os 5 direitos do bancários com síndrome de burnout
Quando você adquire síndrome de burnout e é possível enquadrá-la como doença ocupacional, seus direitos são:
- Ficar afastado do trabalho recebendo auxílio-doença;
- Não ser demitido ao retornar do afastamento;
- Indenização por danos morais;
- Reembolso pelas despesas médicas;
- Pensão e aposentadoria por invalidez no caso de incapacidade permanente.
Eu expliquei aqui neste artigo, quando a síndrome de burnout pode ser enquadrada como doença ocupacional, recomendo conferir.
Ah, e se você quiser entender a fundo todos os 5 direitos, recomendo conferir este artigo.
Está com burnout e precisa de ajuda?
Sabemos pelo que você está passando. Somos um Escritório com vasta experiência em causas envolvendo síndrome de burnout e podemos te ajudar a encontrar uma saída.
6- Acho que estou com burnout, e agora?
Se você acredita que está com burnout, o primeiro passo é buscar ajuda profissional.
Para isso, procure um psicólogo e psiquiatra de sua confiança, esses são os profissionais responsáveis por diagnosticar e tratar a burnout.
Não se baseie exclusivamente em questionários ou textos da internet, é sua saúde que está em jogo.
Allan, mas não tenho dinheiro para isso…
No SUS, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) está apta a oferecer, de forma integral e gratuita, todo tratamento, desde o diagnóstico até o tratamento medicamentoso.
Quando iniciar o seu tratamento, se o seu psiquiatra constatar que você não tem condições de trabalhar, ele deve fornecer atestado.
Caso o atestado seja de mais de 15 dias, você deverá se encostar pelo INSS.
Se for esse o caso, peça também que o seu psiquiatra e psicólogo façam um relatório da sua condição, para que você leve para a empresa.
Isso vai facilitar que a empresa reconheça a burnout como sendo causada pelo trabalho e então emita a CAT.
Depois disso, é importante que você pense se quer continuar trabalhando ali ou não.
Caso não deseje continuar trabalhando ali, é possível pedir a rescisão indireta do seu contrato de trabalho.
A rescisão indireta é como uma justa causa, só que é você quem aplica na empresa, e não o contrário.
Nesse caso, você recebe todos os seus direitos, como se estivesse sendo colocado para fora, e ainda pode receber:
- 12 meses de salário;
- Indenização por danos morais;
- Reembolso por suas despesas médicas.
Por outro lado, se você não quiser sair, você pode optar por exigir apenas a indenização por danos morais e o reembolso pelas despesas médicas.
Para te ajudar a tomar essa decisão e entender qual a melhor estratégia para você, recomendo fazer uma consulta com um advogado especialista.
Ah, e uma última dica, e também a mais importante:
Guarde todos os documentos médicos e documente tuuudo!
Para exigir seus direitos na Justiça, você precisa provar tudo, que teve burnout, as causas e consequências, por isso a importância de documentar tudo.
Para dicas de como provar a síndrome de burnout no trabalho, recomendo ler este artigo.
Grupo de apoio
Se você quiser conversar com outras pessoas que também sofrem com a burnout, recomendo conhecer o grupo burnoutados anônimos, da Carol Milters.
Os encontros acontecem pela plataforma zoom, na última sexta-feira do mês, às 12h30min (horário de Brasília) e eles são abertos, gratuitos e confidenciais.
Se interessou?
Se quiser saber mais sobre como funciona o grupo e para se inscrever, basta acessar a página da Carol, clicando aqui.
Ah, na página dela você também encontra conteúdos sobre workaholismo e saúde mental no trabalho, depois confere lá!
Você também pode seguí-la no instagram clicando aqui.
Conclusão
Você viu aqui as principais informações sobre a síndrome de burnout em bancários, viu o que é, as principais causas, quando ela é doença ocupacional e ainda alguns direitos de quem adquire essa síndrome.
Te dei também algumas dicas para você seguir, caso ache que está com burnout.
Lembre-se, o diagnóstico e tratamento correto da síndrome é o mais importante, por isso procure ajuda dos profissionais de saúde.
Não confie apenas naquilo que você encontra pela internet, ok?
Para continuar te ajudando, separei alguns artigos aqui do blog que vão te interessar:
- 5 Casos reais de bancários com síndrome de burnout na Justiça
- Sair da empresa por síndrome de burnout sem perder os direitos em 2022
- 7 Causas do burnout em bancários
- Funcionário com síndrome de burnout pode processar a empresa? [2022]
Espero que tenha contribuído com sua jornada, um abraço e até a próxima!